quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Mutantes - "Tudo Foi Feito Pelo Sol"


Quando pintaram os anos 70, todo mundo pirou ao som do novo tipo de Rock produzido na Europa, mais tarde batizado Rock Progressivo. Yes, Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull e King Crimson eram alguns dos nomes da vez, venerados pela geração pós-psicodélica. Como não poderia deixar de ser, a febre também bateu forte aqui, em terras verde-amarelas, influenciando uma boa leva de bandas que, agora, se ligavam ao som do moog.

Um obstáculo, porém, com que nosso esfarrapado Brasil se deparou ao enveredar-se pelos caminhos tortuosos de tal estilo, foi a falta de tecnologia necessária à feitura desse sofisticado e intrigante som. A única saída para as bandas brazucas era garimpar no estrangeiro, em busca dos tão caros equipamentos adequados. E talvez nenhuma banda tenha ostentado um equipamento tão invejável quanto o dos veteranos roqueiros paulistas dos Mutantes.

Em 1974, quando os Mutantes já eram praticamente propriedade do Sr. Sérgio Dias, tendo passado por diversas mudanças de formação ao longo dos anos e dos discos, o guitarrista, juntamente com a banda, formada por Túlio Mourão, nos teclados; A. Pedro de Medeiros, no baixo; e Rui Motta na batera; resolveu lançar um dos álbuns ícones do Progressivo tupiniquim: “Tudo Foi Feito Pelo Sol”.

Apesar de, em alguns trechos, não ser a originalidade o ponto forte do trabalho, o álbum possui momentos simplesmente fantásticos, realmente dignos de toda sua fama e admiração. Os Mutantes tinham o dom de criar universos altamente imaginativos, garantindo ao ouvinte uma passagem de ida à lua – ou qualquer outro satélite ou planeta desconhecido pela astronomia. A viagem já começa com a capa do trabalho, cujo autor não é creditado no encarte – pelo menos não na edição que possuo.

O disco tem início com “Deixe Entrar Um Pouco D’Água No Quintal”, talvez a mais Prog do disco. Sua introdução, um pouco forçada a meu ver, me parece uma tentativa de soar o mais parecido possível com uma banda inglesa. A parte cantada, porém, vem com força total, dotada de sua levada malandra e suingada e um instrumental maravilhoso, executado por uma banda realmente afiada. A sonzera é quebrada por uma parte simplesmente deliciosa, com as guitarras de Sérgio marcando presença. Ao longo da canção há, novamente, o contraponto entre a pegada mais enérgica e as passagens mais suaves, contando com os solos com pedal de delay e arranjos carimbados do contexto Progressivo. Ótima faixa!

A sensacional “Pitágoras” dá continuidade à obra, ao som do teclado magnífico de Mourão. Seu riff super viajante é irresistível, acrescido, posteriormente, dos outros instrumentos do conjunto, um por vez, com melodias sensacionais, até desembocar em uma massa sonora arrepiante. Após essa maravilha, Sérgio demonstra, mais uma vez, seu talento com as cordas, em uma passagem acústica maravilhosamente bem feita. Uma pérola!

Outro momento delicioso é “Desanuviar”. Aqui a banda despeja toda sua veia zen na obra, produzindo uma peça extremamente relaxante e letárgica. Após um trecho mais conturbado, em que a banda vai intensificando o som em uma sucessão de acordes ascendentes, a calmaria retorna com aquele tão amado som do sintetizador, executado por Túlio. A faixa termina ao som de cítaras indianas – nada mais apropriado, não é mesmo?

Após essa sessão de três grandes composições, a banda nos traz a mais embalada “Eu Só Penso Em Te Ajudar”, com bons trechos de piano ao estilo boogie-woogie. A canção possui bons arranjos, com mudanças de andamento e quebras de ritmo, bem Progressiva.

“Cidadão da Terra” possui tecladeira bastante chupada de bandas estrangeiras, lembrando bastante o som de grandes bandas Inglesas. A canção, ainda que de sonoridade um tanto importada, possui o toque viajante dos Mutantes, mantendo a coesão em relação ao restante do álbum.

“O Contrário de Nada É Nada”, um Rock n’ Roll bem simples e descontraído, não possuindo nem 3 minutos de duração. Dispensa maiores comentários.

O disco termina com a faixa título, dotada de uma excelente introdução. A parte cantada, não tão boa quanto o início da canção, ainda consegue agradar, não passando, porém, de razoável. A obra finaliza-se com uma parte instrumental um pouco arrastada, mas bem executada.

Como os caros leitores puderam perceber, as 3 primeiras faixas do álbum são bem superiores às demais, embora nenhuma das outras faça feio. De qualquer maneira, é um trabalho que vale muito a pena – se você sente alguma simpatia pela sonoridade Progressiva, é claro. Todos os integrantes da banda mostram-se extremamente competentes, cada um desempenhando um importante papel para o êxito da obra.

Vale lembrar que foi lançada recentemente uma nova versão do CD, em formato digipack, contendo três bonus-tracks de encher os ouvidos: “Cavaleiros Negros”, apetitosa em todos os seus 8 minutos e 36 segundos; “Tudo Bem”, outra belíssima faixa; e “Balada do Amigo”. Altamente recomendado!

No mais, boa viajem!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

David Gilmour - "On an Island"


Ainda bem que nem tudo que é bom dura pouco. Se tal máxima fosse verdadeira, não teríamos na ativa, mesmo depois de velhos, grandes bandas e personalidades do mundo do Rock. Em alguns casos, a idade parece não chegar nunca, a exemplo dos Rolling Stones, banda que, debaixo de puros pele e osso, ainda é conservada uma vitalidade invejável e inédita. Em outros casos, há um amadurecimento bastante proveitoso – e não me refiro ao “amadurecimento” que, na verdade, traduz-se como “tornar-se insosso”, como é decorrente em bandas que já carregam mais de 30 anos de estrada nas costas.

É de um caso desse tipo, de “amadurecimento positivo”, que trata a resenha de hoje. David Gilmour, ex-guitarrista do Pink Floyd, e um dos mais importantes e originais em seu instrumento, após adquirir muitas rugas e uma invejável pança, deu as caras novamente em 2006 com uma grata surpresa: seu terceiro álbum solo, “On an Island”.

É evidente que eu não quero dizer aqui que o velho Gilmour superou sua obra produzida juntamente com o Floyd, pois seria um sacrilégio. O que aqueles garotos de Cambridge produziram na década de 70 é inigualável. Posso afirmar, contudo, que, dos três álbuns de estúdio em que o guitar-hero do feeling se aventurou em produzir, esse é o mais consistente. Quem ama os solos épicos de Gilmour – todo fã de Rock setentista – não poderá resistir aos aqui executados. Sim, o velho enrugado e barrigudo ainda está em plena forma.

O disco começa bem com a atmosférica e retalhada “Castellorizon”, antecipando um pouquinho de cada faixa que está por vir. Após essa confusão de diferentes sonoridades sobrepostas e remendadas, Mr. Dave coloca seus dedos e sua guitarra para funcionar – sem mencionar a pedaleira, sempre presente ao longo da obra.

A faixa serve de prelúdio para o carro-chefe do disco, a própria “On an Island”, contando com a participação especialíssima de David Crosby e Graham Nash nos vocais de apoio. Trata-se de uma belíssima canção, certamente uma das melhores do disco. Como era de se esperar, a música contém um grande solo de guitarra daqueles que só David Gilmour poderia criar.

“The Blue”, suave e fluida, é um verdadeiro mergulho em calmas águas, tanto no campo musical quanto no lírico. Aliás, o disco todo possui uma sonoridade meio “aquática” – e isso não é mais um de meus devaneios, mas uma consideração do próprio autor – o que vai bem a calhar tanto com o título do álbum quanto com a arte gráfica. Um resultado belíssimo é conseguido no DVD ao vivo no Royal Albert Hall, em que “The Blue” é combinada com os efeitos visuais tão utilizados por Gilmour desde seus tempos de Pink Floyd.

A faixa seguinte, “Take a Breath”, a mais agressiva de toda a obra, possui algo de Syd Barrett, apezar de conter, também, a sonoridade do Floyd “Era Gilmour”. A cancão destaca-se na obra – mesmo porque quebra a placidez predominante no trabalho – e possui um efeito um tanto hipinotizante.

E quem foi que disse que David Gilmour são só instrumentos de cordas? “Red Sky at Night”, obra instrumental que poderia perfeitamente estar contida no álbum “The Division Bell”, nos apresenta o velho arriscando um sax – pra quê mexer com Dick Perry??, hehehe.

“This Heaven”, com forte influência de música negra americana, é outra canção de destaque, possuindo sonoridade mais rústica e um clima bastante descontraído.

Quem mete o bico no disco dessa vez, em “Then I Close My Eyes”, é Robert Wyatt, um dos nomes máximos do sub-gênero Progressivo conhecido como Canterbury Scene, e integrante fundador do Soft Machine. Wyatt faz sua participação tocando trompete, no bom estilo “Army of Salvation”, como brincou o próprio músico.

“Smile” é mais uma belíssima canção, composta por Gilmour em parceria com sua esposa, Polly Samson, como a maioria das musicas do disco. Bela melodia e instrumentação intimista são as principais marcas da canção, além da voz soprano de Polly.

A próxima faixa, “A Pocketful of Stones”, bela, solitária e misteriosa, me parece uma homenagem a Syd Barrett, membro fundador e ex-lider do Pink Floyd, vítima de seu exagero com as drogas, principalmente o ácido. Syd, ainda jovem, ficou esquizofrênico, recuperando-se, porém, ao longo de sua vida de reclusão. Infelizmente, o músico veio a falecer em 2007.

O disco termina com a canção de maior beleza melódica de toda a obra, “Where We Start”, uma das minhas favoritas. Momento realmente inspirado, simples e verdadeiro, possuindo uma delicadeza e um charme encantadores.

É necessário ressaltar a participação de Richard Wright, ex-tecladista do Floyd, em várias das faixas do disco. Richard faleceu este ano, vítima de um câncer com o qual vinha lutando há algum tempo. Outra grande perda para os fãs do Pink Floyd, como eu.

“On an Island”, um álbum bastante comportado, como era de se esperar, não agradará ouvintes ávidos por maiores audácias sonoras; será um prato cheio, porém, a qualquer pessoa a procura de uma sombra de árvore, vista para o mar, gaivotas no céu, e, principalmente, sossego. Eu aceito a passagem de bom grado.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Premiata Forneria Marconi - "Storia di Un Minuto"


Pra quem tem a Itália somente como a terra da pizza, eis aqui uma novidade: há muito mais coisas vindas de dentro daqueles fornos do que se imagina. Iguarias ímpares, que exigem um paladar refinado e degustação minuciosa. Quem aprecia isso tudo tem que conferir os pratos dos “chefs” do Premiata Forneria Marconi, em especial, a receita que enche de saliva a boca de qualquer amante da cozinha italiana, “Storia di Um Minuto”.

Deixando de lado as alegorias culinárias, meu intento de hoje é compartilhar com vocês, amigos internautas, essa maravilha, trazida a nós diretamente de Milão, Itália. Trata-se, realmente, de um dos baluartes do Rock Progressivo do país e do mundo – sim, a Itália foi um grande celeiro do movimento na década de 70 – sendo extremamente respeitada e admirada.

O disco, lançado em – adivinha? – 1972, possui delicadeza melódica e harmônica raramente apresentadas por bandas vindas daquelas bandas – com o perdão do trocadilho – e beleza encantadora, além dos arranjos requintadíssimos e de extremo bom gosto.

“Introduzione” já dá, nos seus 01min10seg de duração, uma amostra do que está por vir. Apesar de ser uma faixa introdutória de tão curto fôlego, trata-se de um belo momento do álbum, apresentando dinâmica e variação rítmica.

Reverenciada e aplaudida de pé por todo fã que se preze, “Impressioni di Settembre” é um dos clássicos absolutos do conjunto, ocupando, sem sombra de dúvidas, posição de grande destaque na obra. Possui melodia e arranjos delicados e belos, com os vocais singelos de Franco Mussida, até explodir em seu riff de sintetizadores tão conhecido e aclamado. Tal riff, o ponto central da canção, é de uma força extraordinária, ao mesmo tempo doce e raivoso.

Após o término de tão emblemática peça, é hora de dançar ao som da tarantella roqueira “É Festa”, outro clássico obrigatório em qualquer show do Premiata. A faixa é simplesmente – se é que eu posso usar a palavra “simples” quando se trata desse álbum – uma síntese do espírito italiano contido no Prog Rock produzido nesse fértil país. Grande obra, realmente, abundante em quebra de ritmos e melodias animadas, que causarão uma inquietação em suas pernas! Tudo revestido, claro, pelos arranjos excepcionais e a qualidade técnica de cada um dos integrantes da banda.

Depois de tanto quebra-pau, “Dove... Quando... (Parte I)” chega, de mansinho, envolvendo-nos com sua delicadeza e encanto irresistíveis. Sua melodia, violões e flautas, etéreos, transportam-nos diretamente a um vale escuro e incrivelmente belo e acolhedor, oferecendo-nos repouso.

Bem mais agressiva e erudita, “Dove... Quando... (Parte II)”, possui um soberbo trecho tocado ao piano, posteriormente acompanhado por uma banda furiosa e afiadíssima, cheia de sincronias muito bem executadas. A canção transforma-se em um plácido momento executado por um suposto violoncelo, emulado pelos belos sintetizadores que se faziam antigamente. Após esse momento de placidez, somos convidados a apreciar uma passagem bastante jazzística, em que a flauta de Mauro Pagani brinca com os teclados de Flavio Premoli.

Interrompe-se tudo para dar passagem a “La Carrozza di Hans”, outro momento chave da obra. É tão grande o número de clássicos no álbum que o mesmo mais parece uma compilação. Mas é claro que uma coletânea não possuiria tamanha coesão, presente apenas em um álbum tão bem estruturado, formando uma obra realmente equilibrada, em que tudo faz sentido. Merece destaque o violino de Pagani, além do desempenho fenomenal de todo o conjunto, executando complexas sincronias entre todos os instrumentos. É muito interessante observar a habilidade da banda ao reproduzir tais malabarismos sonoros no palco, apresentando um trabalho impecável (conferir o “PFM Live in Japan 2005”, cujo vídeo está disponível em sites como YouTube e Google Video).

Fechando tudo, “Grazie Davvero” dá os agradecimentos finais com sua suave melodia inicial, que explode com um impactante riff – bastante circense, a meu ver – em que a banda utiliza-se de metais. A música segue como um espetáculo de picadeiro, de maneira bem pomposa, voltando, posteriormente, à melodia inicial, a que se juntam os vigorosos metais.

Assim termina essa história de vários minutos sensacionais e inspirados, dignos de uma atenção muito especial e, em conseqüência, grande admiração. Se o Rock, aqui, não pode adquirir o status de arte, então eu não sei o que pode. E tenho dito.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Status Quo - "Quo"


Resenha especialmente escrita por Haig Berberian.

Cabelo, jeans, e heavy blues. Esse é o trinômio que define o grupo de rock inglês Status Quo. A banda, que começou nos anos 60 tocando pop psicodélico – aquele típico da segunda metade de tal década – se revoltou contra essa sonoridade e as imposições da gravadora, partindo para o rockão seco e baseado no blues que a consagrou. E então, devidamente cabeludos e enjaquetados, lançaram alguns discos clássicos muito admirados pelos dinossauros do rock mundo afora.

É um disco esquecido, porém, o alvo da minha resenha de hoje. Não sei se devo me referir a ele como esquecido ou como subestimado, na verdade. E nem sei se minha admiração por ele dá-se mais por uma nostalgia muito pessoal que pela qualidade do álbum em si. Trata-se, enfim, do “Quo”, de 1974.

Conheci o LP no comecinho da minha pré-adolescência, no saudoso ano 2000, se não me engano. Aconteceu que, quando meus avós resolveram mandar o toca discos pro conserto, a família se reuniu para tirar a poeira dos antigos bolachões, relembrando a infância ainda contida naqueles sulcos furados. Entre célebres discos do Carequinha, Arca de Noé, e afins, encontrava-se uma peça um tanto diferenciada: um álbum que trazia em sua capa uma árvore psicodélica, cujo tronco dava origem às cabeças de quatro sujeitos cabeludos. As raízes da árvore formavam, em uma tonalidade cinzenta, a palavra “QUO”, assim, em letras maiúsculas. “Esse é pauleira”, comentou meu tio, atiçando, é claro minha curiosidade. O riff introdutório não me soou pauleira o bastante e, após alguns minutos, passamos para o próximo disco.

Foi na manhã seguinte, porém, que recolocando a agulha sobre o castigado vinil, aquele som me bateu forte aos ouvidos, e eu sucumbi, profundamente, ao som das terças e quintas daqueles acordes de rock n` roll. Aquele som me preencheu e me satisfez de forma espetacular. Foi um daqueles momentos em que se redescobre o rock. “É isso que eu vou tocar quando eu tiver uma banda”, pensei. E fui pra casa, obstinado em comprar aquele álbum em CD, tarefa que só consegui cumprir em 2007, na Galeria do Rock – e com muito suor.

O “Quo” é, na verdade, resultado de um período conturbado na história da banda, em que o baixista Alan Lancaster e o guitarrista Rick Parfitt confrontaram os principais compositores da turma, Francis Rossi e Bob Young, tomando, então, as rédeas do novo álbum e compondo 5 das 8 faixas contidas no mesmo, sendo que uma das 8, “Break the Rules”, é uma composição de todos os membros da banda. Tal mudança permitiu um novo sabor à sonoridade do conjunto, resultando em um fantástico disco de honesto rock n`roll. Essa mudança talvez seja o motivo da indiferença da maioria dos admiradores do Status Quo em relação ao disco. Por outro lado, é essa sonoridade que me laçou irremediavelmente quase uma década atrás.

O disco começa com a sensacional “Backwater”, talvez minha preferida de todo o repertório do grupo, e seu especialíssimo riff de abertura, desembocando nos velhos e tão conhecidos acordes de rock. A bateria e o baixo martelam forte, aumentando a potencia e a virilidade sonora do trecho. Sem pedir licença, uma passagem plácida e reconfortante é executada, ganhando força e volume até explodir, novamente, em um rock n` roll enérgico. Os vocais encaixam-se perfeitamente ao restante da obra, coroando esse espetacular e delicioso som.

“Just Take Me” emenda-se na faixa anterior, abrindo com uma sessão de percussão muito gostosa. A música possui melodia agressiva e um solo de guitarra sensacional, acompanhado apenas pela percussão e, depois, por uma guitarra base muito ritmada e picada. Que espetáculo!

A próxima canção, “Break the Rules”, transporta-nos a uma espelunca em um lugar qualquer na Inglaterra. A faixa é pura fanfarronice, com aquele pianinho que sempre vai muito bem, obrigado, quando o assunto é rock n` roll, sem falar da gaita, que arremata toda a farra sonora.

“Drifting Away” e seu riff infernal fecham em grande estilo o lado A do LP. Os vocais, mais uma vez, são sensacionais.

Vire o disco e prepare-se, pois este guarda uma agradabilíssima surpresa logo de início: a visceral “Don`t Think It Matters”. Mais um espetacular riff de guitarra para a coleção do álbum. Tal riff caberia perfeitamente em qualquer disco do Sabbath ou qualquer grande banda de hard rock – quase heavy metal – da década de 70. Eu realmente não entendo como uma música assim pode ser negligenciada pelos fãs da banda... que lástima. De qualquer maneira, uma faixa que consegue se destacar num álbum de tanta qualidade só pode ser uma baita musica.

“Fine, Fine, Fine”, a mais fraca do disco, ironicamente é uma das únicas feitas pelos compositores veteranos da banda, Rossi e Young.

Que pérola é “Lonely Man”! A única balada do álbum possui enorme força e beleza, tendo como base um delicioso violão, acompanhado, mais adiante, pelos outros instrumentos. A musica possui bela melodia e um solo de guitarra poderoso. Outro ponto de destaque da obra!

O disco termina com outra composição da dupla Rossi e Young, “Slow Train”, a mais longa do álbum, com 7 minutos e 54 segundos de duração. A faixa, como era de se esperar, tem mais a ver com a sonoridade usual do Status Quo – digo, a sonoridade da banda fora desse disco peculiar – com um rock ainda mais vintage. Com todo o respeito aos dois músicos, que já tomaram frente de fabulosos álbuns, como o bem mais aclamado “Piledriver”, “Slow Train” também não está entre minhas favoritas do disco. É, ainda sim, um rock responsa e de qualidade.

E a capa... Pô, esta fala por si só!!!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Titãs - "Acústico MTV"


Hoje eu resolvi valorizar o produto nacional. Nada de bandas gringas setentistas, mas sim, um grupo brazuca que gravou, já na segunda metade da década de 90, um dos álbuns mais importantes e representativos da minha vida: os Titãs. O álbum é o Acústico MTV. Já vou avisando aos amados leitores que esta resenha trará consigo alto grau de romantismo e pessoalidade, mas, podem ter certeza, muita honestidade também.

Em minha opinião, a série Acústico MTV, uma verdadeira máquina de hits e grana, nunca produziu uma obra de tamanha qualidade e distinção – isto é, em âmbito nacional. Eu me lembro de sempre dizer: “nem os Engenheiros do Hawaii fariam um acústico tão bom”. Dito e feito. Ao contrário do popzinho 4/4 do acústico da banda gaúcha, os Titãs realmente produziram algo fino, acompanhados por uma equipe de peso, contando com arranjos fabulosos e produção esmerada. Aliás, com Marcelo Martins, Jacques Morelembaum – ex-A Barca do Sol – e Liminha – ex-Mutantes – por trás dos arranjos é covardia, né?!

O show causou grande curiosidade entre os fãs e os diversos músicos e outros artistas brasileiros. Afinal, os Titãs eram sinônimo de barulho e irreverência, sendo difícil imagina-los em banquinhos de madeira, dedilhando violões. Aliás, “violões” não era uma palavra nada comum no vocabulário da banda, que sempre teve preferência pelas guitarras destorcidas.

Como o disco possui 22 faixas, não discorrerei longamente sobre os detalhes de cada canção, dando apenas uma visão panorâmica do disco. É claro que as melhores canções merecem maior destaque.

O disco começa muito bem com “Comida”, revestida com um arranjo que, a meu ver, foi puxado do Ray Charles. Fito Paez faz sua contribuição em “Go Back”, outro excelente momento do álbum. Em canções como “Os Cegos do Castelo”; “Nem 5 Minutos Guardados”, uma das mais belas do set list; “Flores”, com participação de Marisa Monte; “Palavras”; “A Melhor Forma”; e “Não Vou Lutar”, a mini-orquestra adiciona às belas melodias um requinte simplesmente irresistível. O bom gosto e a delicadeza dos arranjos de metais, madeiras e, principalmente, cordas, são de arrepiar. São grandes o prazer e a nostalgia que sinto ao escutar tais canções, que foram trilha sonora de uma maravilhosa fase da minha vida.

Merecem menção também a mórbida “O Pulso”, com os vocais do titã desertor Arnaldo Antunes; a descontraída “Família”; “Marvin” e toda sua melancolia; e “Televisão”, um divertidíssimo Blues em que Rita Lee acompanha os marmanjos.

Nem tudo, porém, são flores. Com todo o respeito a Jimmy Cliff, “Querem Meu Sangue” não me é muito agradável aos ouvidos, assim como “Homem Primata” – talvez devido à minha implicância com o Ska. Esses tropeços – digo, tropeços na minha humilde opinião, é claro – não comprometem em nada o álbum, que contém infinitamente mais pontos positivos que negativos.

Como é de praxe, aqui vão minhas considerações sobre o visual do disco. Os tons de marrom dão um caráter rústico de muito bom gosto ao álbum, provocando uma sensação gostosa. Eu, particularmente, sou fã de cores escuras e frias, presentes tanto no encarte do CD quanto no cenário do show. E que cenário! Teatralidade e drama estão contidos nos prédios e nuvens colocados ao fundo do palco, dando o clima sob medida ao espetáculo. Aliás, tudo aqui foi feito na medida certa. A MTV, dessa vez, acertou na mosca... E os Titãs também, é claro!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Yes - "Close to the Edge"


Assim como Machado de Assis está para o Realismo; Picasso, para o Cubismo; Bach, para o Barroco; está o Yes para o Rock Progressivo. Assim como todo gênio – ou, no caso, grupo de geniais músicos -, a banda também possui sua magnum opus, e seu nome é “Close to the Edge”. Talvez a hermética concha que é o movimento Progressivo nunca tenha produzido uma pérola de tamanha perfeição, tão equilibrada, tão bela. A imaginação e magia contidas nessa obra são impressionantes, justificando o amor dispensado a ela por tantos proggers mundo afora.

Sinceramente, acho que o ano de 1972 tinha algo diferente em sua atmosfera, alguma substancia no ar – não; não me refiro à maconha ou a nenhuma outra substância ilícita, pois estas já estavam presentes antes e continuam presentes hoje. Obras fantásticas encontraram solo fértil naqueles 365 dias para poderem florecer, e com estes cinco rapazes ingleses não foi diferente. Aqui, Jon Anderson, Rick Wakeman, Steve Howe, Chris Squire e Bill Bruford realmente se superaram, produzindo a obra que serviu de referência para diversos outros artistas da época e dos atuais dias. O Yes, com certeza, foi uma das bandas mais influentes do movimento Progressivo, e suas características estão concentradas no álbum em questão.

Já devo avisar que o álbum soará bastante estranho a ouvidos desacostumados, regra que vale para a maioria das obras Progressivas, mas, ainda assim, vale experimentar. O disco tem uma outra característica muito comum em álbuns do gênero e que causa estranhamento aos ouvintes iniciantes: a pouca quantidade de músicas que, em compensação, são obras de longo fôlego. A faixa título possui 18 minutos e 37 segundos; a segunda faixa, 10 minutos e 09 segundos; e a terceira e última faixa, 8 minutos e 57 segundos.

Vamos à análise. O álbum, produzido por Eddie Offord juntamente com a banda, inicia-se com a faixa que talvez possa ostentar o título de melhor suíte Progressiva de todos os tempos, a magnífica “Close to the Edge”. Sua introdução peculiar soará como um caminhão cuja carroceria está cheia de instrumentos musicais se colidindo – como já li uma vez – para marinheiros de primeira viagem, mas trata-se na verdade de um trecho de grande complexidade sonora, passando depois para o tema principal da canção. O baixo de Squire mostra-se inquieto e soberbo, sempre com seu estilo inconfundível. As melodias excepcionais transportam-nos diretamente para o interior de uma floresta verde e úmida, passando por riachos e pássaros cantantes – como na introdução. A guitarra de Howe também exerce papel de grande importância, juntamente com a voz cristalina de Anderson, os teclados virtuosos de Wakeman e a bateria quebrada de Bruford. Que deleite! Após um trecho inspiradíssimo e bastante erudito, um momento delicioso nos espera. É a sessão “I Get Up, I Get Down”, ainda parte da suíte. Esse fragmento da faixa é de beleza e doçura ímpares, como se fosse parte de um sonho; um daqueles que te dão saudades de um mundo mágico em que você nunca esteve. Me desculpem o excesso de comparações absurdas, mas não posso evitar, devido à forte impressão que a obra causa neste humilde escriba. O arranjo vocal é sublime, executado por Anderson, Squire e Howe. A canção segue com um momento de virtuosismo tecladístico de Rick Wakeman, com seu estilo Rococó sintético. A obra caminha para seus momentos finais, em que se executa o tema principal com arranjos diferentes. Fabuloso!

A segunda faixa, “And You And I”, outro clássico absoluto da banda, é outra viagem pelas paisagens naturais de um mundo verde e virgem. É como estar em uma canoa, em um rio calmo, tendo sua bela dama como única companhia. Será que Tolkien escutava Yes?!? A música possui uma originalíssima melodia, apoiada sob as cordas de Howe, possuindo, porém, inúmeras mudanças de tempo e instrumentos, tornando a análise bastante complicada. Em resumo, é o momento mais romântico do disco, podendo, para alguns, soar até um pouco meloso. Mesmo assim, é uma obra digna do álbum em que está inserida.

O álbum fecha com a mais agressiva “Siberian Khatru” – e nem adianta procurar pela palavra “khatru” no dicionário. A faixa possui um caráter meio jurássico, contrastando com a placidez das duas canções anteriores. A linha de baixo, como sempre, é genial, assim como todos os músicos e a voz de Anderson. Trata-se, realmente, de um álbum fora de série.

Tudo isso é embalado pela capa de Roger Dean, brilhante artista responsável por praticamente todas as capas do Yes e de vários outros conjuntos da época. É nesse disco em que aparece pela primeira vez o logotipo clássico da banda. Apesar de não possuir a elaboração usual das capas do desenhista, o design casa-se perfeitamente com a sonoridade do álbum, colorindo-o com o verde bucólico que as músicas sugerem.

Inigualável.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Wishbone Ash - "Argus"


Durante as décadas de 80 e 90, tornou-se modismo entre bandas de Metal, como Saxon, Blind Guardian, e Rhapsody, a temática de batalhas épicas e heróicas, em que cavaleiros de espada em punho encontram seu destino em campos de batalha. Algumas bandas, tentando emular a musicalidade erudita ou popular da idade das trevas, produziam obras de tom pseudo-medieval, prática que já se tornou uma espécie de clichê headbanger.

Tal temática, porém, teve inicio na década de 70, principalmente no Hard Rock e no Rock Progressivo. Inserida nesse contexto está a banda Wishbone Ash, com seu terceiro álbum de estúdio, “Argus”, produzido por Derek Lawrence. Estamos nos referindo, contudo, a uma obra-prima absoluta do Rock, lançada no prolífico ano de 1972.

Nunca na história da musica fez-se Rock “de guerra” com tamanha maestria. A começar pela capa do disco, obra do ilustre estúdio Hipgnosis. A capa decodifica em imagem a sonoridade do álbum, como se fosse a fotografia de uma musica. O soldado na fronteira, observando à procura de possíveis intrusos, dá ao disco uma feição épica, mas de forma classuda e natural.

O álbum inicia-se com a doce e matinal “Time Was”, com os violões de Andy Powell e Ted Turner, e a excelente harmonia vocal de Ted e Martin Turner. A melodia da canção apresenta uma rara fusão de leveza e esplendor, possuindo um bucolismo sonoro. Após essa reflexiva aurora, a musica rompe em um Rock mais embalado que, mesmo não tendo a beleza da parte anterior, ainda ostenta grande charme.

A próxima faixa, “Sometime World”, é uma balada que possui a elegância presente em todo o álbum, com a beleza melódica tão característica dessa singular obra. A canção, assim como a faixa anterior, torna-se um Rock classudo com fraseados e harmonias vocais e de guitarras.

“Blowing Free”, a mais descontraída do disco, é simplesmente uma delicia. Sua temática nada tem a ver com o cenário de uma guerra, abordando o velho tema garoto/garota. Mesmo assim, destaca-se no disco como uma de suas faixas mais agradáveis.

A próxima faixa é, sem duvidas, um dos grandes clássicos do Hard setentista. Trata-se de “The King Will Come”, uma canção escatológica sobre o juízo final. A faixa começa com uma gradação em que a musica vai crescendo até explodir em um riff simplesmente alucinante. Os solos, no estilo “twin guitars”, marca registrada da banda, são inspiradíssimos, e o wah-wah nunca soou tão pomposo.

“Leaf and Stream”, mais uma atmosférica balada de caráter etéreo e cigano, é resultado de um belíssimo arranjo de guitarras e inspiradíssima melodia vocal, só pra variar. A faixa é o último suspiro antes da batalha realmente começar.

É chegado o momento. Todos estão preparados, com seus elmos, cotas-de-malha, escudos e espadas. “Warrior” vem com seu poder avassalador, num riff absolutamente bélico e destemido. Sem nenhuma pretensão de soar medieval, a banda evoca, com genuíno e genial Hard-Prog, um sangrento campo de batalha, digno dos exércitos de Gondor e Rohan contra Mordor. Nunca se conseguiu tão plenamente esse efeito na musica pop, com exceção, talvez, em “I Could Never Be a Soldier”, do Gnidrolog.

Após o término da peleja é hora de abaixar a espada, deixar a gloria, e voltar pra casa. “Throw Down the Sword” tem início com uma melodia sensacional feita pelas guitarras harmonizadas de Andy e Ted, a que se junta o rufar da caixa da bateria de Steve Upton. A canção é uma balada que se encaixa perfeitamente à aura do trabalho, fechando-o de forma equilibrada e triunfal, com os característicos solos de guitarra sobrepostos, desta vez acompanhados pelo suave órgão de John Tout, musico emprestado da banda de Folk-Prog Renaissance.

Assim termina essa experiência sonora. A banda nunca mais produziria um álbum de tamanho cacife, ainda que lançasse outras obras de grande qualidade. “Argus” foi votado como o melhor álbum de 72 pelos leitores de dois jornais bastante populares da época, batendo gigantes como “Close to the Edge”, do Yes; “Thick as a Brick”, do Jethro Tull; “Machine Head”, do Deep Purple, entre tantos e tantos outros trabalhos lançados nesse ano fenomenal.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Quem sou esse tal de mim mesmo?


Os fenícios já adoravam uma imagem, um ser, uma interrogacão a qual não sabiam nomear. Usava óculos e boina. Na boca, sempre um cachimbo. Nariz pontudo, cabelos brancos. Costeletas vistosas e uma careca lustrosa.
Os fenícios, sem saber, adoravam a João Lemmos!

Desconsiderem o texto imbecil e curtam o blog...