terça-feira, 20 de julho de 2010

1972 - O apogeu do movimento Progressivo


Olá, amigos leitores do Quem É Esse Tal de João Lemmos?!

Hoje venho aqui apenas para divulgar um texto fundamental para minha formação musical, sem o qual eu não sei como seria meu gosto hoje em dia. O artigo, escrito por Cláudio Fonzi, foi disponibilizado originalmente no site Whiplash, podendo ser conferido no www.whiplash.net/materias/horizonteprogressivo/000215-yes.html (vale um page view). Com vocês, 1972 - O apogeu do Movimento Progressivo.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Historicamente definido como surgido no ano de 1967, o estilo denominado Rock Progressivo permaneceu por alguns anos restrito praticamente à Inglaterra, através de bandas como Pink Floyd, The Moody Blues, The Nice e King Crimson.

A partir de 1970, muitas bandas inglesas foram surgindo, mas em outros países continuava havendo uma representatividade muito pequena, com pouquíssimos lançamentos fonográficos. O ano de 1972, porém, marcou o início da Grande Era Progressiva, com muitos lançamentos de altíssimo nível, não somente entre as bandas inglesas, mas também por diversas bandas de outros países, sendo que boa parte desses lançamentos pode ser considerada como a obra-prima de seus criadores.

Tais lançamentos proporcionaram também uma maior identificação do público em geral, o que terminou por posicionar vários discos Progressivos entre os mais vendidos. Assim sendo, para ilustrar tais fatos com maior detalhe e abrangência, segue abaixo pequena relação, acompanhada de breve descrição das principais obras editadas naquele ano, começando pela Inglaterra:


- "CLOSE TO THE EDGE": Praticamente uma unanimidade entre os fãs do YES, esta obra é admirada pela grandíssima maioria dos proggers e mesmo pelos não-apaixonados pelo estilo. Perfeito em todos os aspectos, é constituído por três maravilhosas sinfonias - "Close To The Edge", "And You & I" e "Siberian Khatru", todas de longa duração. Este trabalho marcou também o apogeu da formação clássica dessa banda, constituida pelos geniais Jon Anderson (vocais), Steve Howe (guitarras e violões), Rick Wakeman (teclados), Chris Squire (baixo e vocais) e Bill Bruford (bateria), no que possivelmente foi o mais virtuoso quinteto surgido na história da Música. A capa foi criada por Roger Dean, o mais importante capista Progressivo de todos os tempos. Em termos de vendas, obteve grande sucesso, atingindo pelo menos o 6º lugar nos EUA e o 9º na Inglaterra.


- "TRILOGY": Outra quase unanimidade entre seus fãs, é o mais coeso trabalho do infernal trio EMERSON, LAKE & PALMER. Contendo um total de 7 faixas, têm como destaques a belíssima suíte "The Endless Enigma", a balada "From the Beginning" e a magistral adaptação da peça erudita "Rodeo" (do compositor americano Aaron Copland), que recebeu o título de "Hoedown".
No aspecto vendas, atingiu a 7ª posição nos EUA e o 8º na Inglaterra.


- "THICK AS A BRICK": Indiscutivelmente, é a obra-prima da fantástica carreira discográfica do JETHRO TULL. Extremamente ousada para a época, esta obra se constituía em apenas 1 música, dividida em duas partes de mais de 20 minutos cada. Além disso, suas letras eram de uma audácia e ironia contundentes e sua capa (um verdadeiro jornal, com várias páginas, noticias de todos os tipos, horóscopo, palavras cruzadas, etc etc) de uma criatividade extraordinária. Criada pelo absolutamente genial Ian Anderson (flauta, vocais e violão), contou também com a presença dos excelentes Martin Barre (guitarra), Barriemore Barlow (bateria), John Evans (teclados), e Jeffrey Hammond (baixo). Tornou-se também um dos discos Progressivos mais vendidos até aquela época, chegando ao 1º posto nos EUA e pelo menos ao 9º na Inglaterra. Na extensa carreira discográfica do Jethro Tull, foi lançado também nesse ano, o esplêndido album duplo "LIVING IN THE PAST", misto de coletânea com inéditas de estúdio e ao vivo e produzido com maravilhoso capricho, com capa dura estilo "livro" e várias folhas internas repletas de fotos coloridas. A despeito de ser duplo, atingiu o 4º lugar nas paradas americanas.


- "FOXTROT": Este álbum contém, para muitos, a obra máxima do Rock Progressivo - a extraordinária suíte "Supper's Ready" e seus mais de 22 minutos. Repleta de variações melódicas e mudanças de tempo, é até hoje, uma das mais sofisticadas e imitadas obras da Música Moderna. Contendo mais 5 excelente músicas, este album marcou a fase áurea do GENESIS (consolidada definitivamente no ano seguinte, com o lançamento de "Selling England by The Pound"), sendo que a formação era absolutamente brilhante, com Peter Gabriel (vocais e flauta), Steve hackett (guitarras e violões), Tony Banks (teclados), Mike Rutherford (baixo, violão, guitarra e vocais) e Phil Collins (bateria e vocais).


- "PROLOGUE": Apesar de não ter tido o sucesso mundial das obras citadas acima, este é certamente um dos mais belos trabalhos da banda RENAISSANCE, tendo tido ainda o inigualável mérito de ter revelado ao mundo a angelical voz da "Musa Absoluta do Rock Progressivo", a cantora Annie Haslam. Este disco marcou também o início da formação clássica da banda, completamente diferente da dos dois discos anteriores. Em "Prologue", os companheiros de Annie Haslam foram Jon Camp (baixo e vocais), John Tout (piano e vocais), Terence Sullivan (bateria e vocais) e Rob Hendry (guitarra, bandolim e vocais), além das participações fundamentais de Michael Dunford (composições), Betty Thatcher (letras), Jim Mc Carty (não pertencia mais a banda, mas contribuiu com duas belíssimas composições) e Francis Monkman (tecladista do CURVED AIR, fêz uma breve mas fantástica participação no sintetizador VCS3, na faixa "Rajah Khan").


- "DEMONS AND WIZARDS" e "THE MAGICIAN'S BIRTHDAY": Respectivamente, 4º e 5º lançamentos do URIAH HEEP, estes álbuns representam o mais alto nível de qualidade que esta banda chegou, com a apresentação de um Hard Rock Progressivo dos mais brilhantes já vistos. Com ligeira superioridade para "DEMONS...", ambos foram executados pela mais importante formação que a banda teve, incluindo o vocalista David Byron, o tecladista, guitarrista e vocalista Ken Hensley, o guitarrista Mick Box, o baixista Gary Thain e o baterista Lee Kerslake. As capas foram de autoria de Roger Dean.


- "SPACE SHANTY": Único album da banda KHAN, é absolutamente espetacular, tendo marcado o alavancamento da carreira do guitarrista Steve Hillage, que daí partiu para integrar o GONG. Contou também com o talento do tecladista Dave Stewart, um dos líderes do EGG e que, posteriormente, esteve em bandas como o HATFIELD & THE NORTH.


- "SWADDLING SONGS": Único album do MELLOW CANDLE (muitos anos depois foi lançado a coletânea de inéditas "The Virgin Pophet"), é uma das jóias mais preciosas do Folk Progressivo, pois reúne melodias absolutamente encantadoras com belíssimos arranjos. Entre os músicos participantes, o destaque vai para as vocalistas Alison Willians e Clodagh Simmonds (que depois participou brilhantemente de OMMADAWN, obra-prima de MIKE OLDFIELD), o guitarrista David Willians e o percussionista Willian Murray (que também participou de OMMADAWN).


- "LADY LAKE": 2º disco do GNIDROLOG, é sua obra mais brilhante, tendo seus pontos máximos nas fantásticas composições "I Could Never Be a Soldier" e "Ships". Entre seus membros, destaque para os gêmeos Colin Goldring (já famoso pela sua participação no clássico "THE YES ALBUM", tocava guitarra, sax, gaita e vocais) e Stewart Goldring (guitarra e vocais) e o multi-instrumentista Nigel Pegrum (flauta, bateria, oboé e piano), futuro membro do STEELEYE SPAN.


- "LIVE IN CONCERT WITH EDMONTON ORCHESTRA": Gravado no Canadá em 18 de novembro de 1971, este album marcou o ápice da carreira Progressiva do PROCOL HARUM, constituído por Gary Brooker (teclados e vocais), B.J. Wilson (bateria), Chris Copping (orgão), Alan Cartwright (Baixo) e Dave Ball (guitarra), que apresentaram-se acompanhados por Coral e Orquestra, realizando bela fusão entre as linguagens Rock e Música Erudita. Aclamado pela crítica, obteve também grande sucesso de vendas, permanecendo por 20 semanas nas paradas americanas, e chegando a atingir o 7º lugar.


- "PHANTASMAGORIA": 3º album do CURVED AIR, não costuma ser considerado como sua obra-prima, mas foi de extrema importância por ter obtido excelente vendagem na Inglaterra (esteve entre os 20 mais vendidos) e confirmado a popularidade atingida pela banda quando do lançamento de seu 1º album, intitulado "Air Conditioning", de 1970. Além disso, foi o último disco de estúdio a contar com os geniais músicos Darryl Way (violino, teclados, percussão) e Francis Monkman (teclados, guitarra, percussão). Como última boa caracteristica, a presença de duas canções magistralmente belas, "Melinda (More or Less)" e "Marie Antoinette" que revelaram, mais do que nunca, a belíssima voz da vocalista Sonja Kristina.


Outros trabalhos de excelente nível foram:


- "THREE FRIENDS": 3º album do GENTLE GIANT e um dos seus melhores.


- "WATERLOO LILY": 4º trabalho do CARAVAN e um dos seus melhores.


- "FIRST BASE": Fantástico 1º album da banda BABE RUTH. Infelizmente, nunca mais conseguiram repetir o feito, lançando apenas discos medianos ou fracos, sempre distantes do estilo Progressivo.


- "BODKIN": Excelente trabalho Hard-Prog da banda homônima.


- "RED SEA": 2º e excelente Hard-Prog do WARHORSE, banda que contava, entre outros, com o baixista Nick Simper (ex-DEEP PURPLE) e Ashley Holt (futuro vocalista da banda de RICK WAKEMAN).


- "FLASH" e "IN THE CAN": Respectivamente, 1º e 2º albuns do FLASH, banda que contou com astros como o guitarrista Peter Banks (líder do grupo, havia recém-saído do YES) e o tecladista Tony Kaye (outro recém-saido do YES, participou apenas do 1º album)


- "ARGUS": A despeito de não ser um disco totalmente no contexto Progressivo, é uma das maiores obras-primas da história do Rock e merece ser aqui incluído. Nesta época, o WISHBONE ASH contava com sua formação original e entre eles estava o guitarrista Andy Powell, responsável futuramente pelo magnífico solo de guitarra na música "Ashes Are Burning" do RENAISSANCE e, como convidado, o tecladista John Tout, igualmente daquela banda.


- "BLACK SABBATH VOL. 4": Outro trabalho não totalmente Progressivo, mas com algumas faixas totalmente inseridas nesse contexto e uma qualidade geral absolutamente espetacular!!!


- "MADE IN JAPAN": Entre os discos ao vivo mais idolatrados do Rock, é um album duplo do Deep Purple, certamente o grupo de maior capacidade e ousadia, em termos de improvisos instrumentais, que já se viu na história do Hard Rock. Tais improvisos eram extremamente longos, podendo chegar ao ponto de transformar músicas de 5 e 6 minutos em obras de mais de 30, como no caso das excelentes "Wring That Neck" e "Mandrake Root". Para a turnê no Japão, porém, improvisos tão longos não aconteceram, pois alguns meses antes, o Purple havia lançado sua obra-prima, o magistral album "Machine Head", e por este ser puramente Hard, o caráter Progressivo dos discos e shows sofreu considerável redução. Apesar disso, "Made in Japan", é um trabalho que contém os tradicionais e excelentes improvisos instrumentais e que, aliados aos brilhantes climas de teclados do mestre Jon Lord, permitem perfeitamente sua classificação como um trabalho de Hard Progressivo.


- "ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA - NO ANSWER": Primeiro trabalho da banda homônima (também conhecida pela simples abreviatura ELO), cujo estilo se caracterizou por interessantíssima fusão de sonoridades puramente roqueiras com violinos e violoncelos sinfônicos. Em seu 1º album, além do futuro lider, o vocalista e multi-instrumentista Jeff Lynne, o ELO contava com a presença do também muilti-instrumentista Roy Wood, ambos ex-integrantes do THE MOVE.


- "MATCHING MOLE": 1º e homônimo album do grupo formado pelo baterista e vocalista Robert Wyatt após sua saída do SOFT MACHINE.


- "OBSCURED BY CLOUDS": a despeito de sua excelente qualidade, é um dos albuns menos Progressivos do Pink Floyd (apenas algumas faixas o são) e nesse artigo não deve entrar como destaque. Lembremos, porém, que todas as músicas do futuro clássico "DARK SIDE OF THE MOON" já haviam sido compostas e eram eram executadas na maioria dos shows que eles deram em 1972. OBC Atingiu o 6º lugar nas paradas britânicas.


-"EARTHBOUND": Gravado ao vivo, possuía sofrível qualidade de gravação, sendo execrado pela maioria dos fãs do KING CRIMSON e pelo seu próprio lider, o guitarrista Robert Fripp. Hoje em dia, porém, após a excelente remasterização em CD, pode-se perceber que o show havia sido fenomenal. Apesar da má qualidade sonora, chegou a se situar entre os 8 mais vendidos em 72 na Inglaterra.


-"DAYS OF FUTURE PASSED": Pois é, quem percebeu que a data original deste clássico dos THE MOODY BLUES não tem nada a ver com a desse artigo, está de parabéns. Existe, porém, uma grande razão para que ele seja citado aqui e esta é a seguinte: no 2º semestre de 72, foi feita uma reedição nos EUA e esta obteve incrível sucesso de vendas, permanecendo por várias semanas nas paradas, tendo atingido, inclusive, o 4º e o 5º lugares por um bom período. Este caso, além de ser bastante inusitado, mostrou muitíssimo bem o grau de pioneirismo desta obra, criada 5 anos antes, mas absolutamente à frente de tudo que havia sido feito até então. No ano de 1972, os THE MOODY BLUES lançaram o album "SEVENTH SOJOURN", belo álbum de baladas, mas muito pouco ligadas ao Progressivo.


- "CAMEL ON THE ROAD 1972": Outro trabalho que poderia não estar aqui incluso, pois só foi lançado 20 anos depois. De qualquer forma, serve muito bem para ilustrar o alto nível qualitativo que esta banda poderia atingir e também o quanto o cenário estava efervescente, com inúmeras bandas surgindo.


- "MIKE OLDFIELD": Outro exemplo para confirmar o comentário acima está no disco "TUBULAR BELLS", verdadeiro marco na concepção, execução e produção de um LP. O esmero em sua produção foi tão grande que o processo de gravação/mixagem e fabricação demorou mais de um ano e por essa razão acabou sendo lançado somente em 1973.

sábado, 17 de julho de 2010

Almôndegas - "Almôndegas"


Por Haig Berberian

A internet tem sido o mais eficiente meio de difusão de novos sons para quem tem o apetite sempre aberto aos diferentes estilos musicais do mundo todo. Para os exploradores de tesouros musicais escondidos então, tal ferramenta parece ter sido enviada pelos deuses diretamente do Olímpo. Muitos internautas adoram “cavucar” o Rock ‘n’ Roll dos buracos e cavernas mais obscuros da Terra, usando e abusando da tecnologia dos tão infames programinhas de compartilhamento, tão acusados de tirar o ganha-pão das pobres gravadoras, mas, por outro lado, responsáveis por revelar inúmeras bandas e artistas a um público que jamais teria acesso a eles, levando-os, inclusive, a adquirir os álbuns conhecidos graças aos downloads ilegais. Irônico, não?

Não obstante, é sobre outra grande ironia que pretendo discorrer na resenha de hoje. Os protagonistas dessa história de contradições são um conjunto das longínquas terras de Pelotas – e peço maturidade, querido leitor – cujo nome revela o teor altamente descontraído e natural de suas letras e filosofia de vida: Almôndegas. Pra quem não conhece, essa foi a primeira banda de Rock/MPB dos irmãos Kleiton e Kledir, famosos posteriormente por sua carreira como uma dupla. E não, eles não tocam música sertaneja, para a tristeza de muitos e minha profunda alegria.

“Mas onde está a ironia nisso tudo?”, pergunta-se o curioso internauta. A resposta é simples: uma das mais fortes características do grupo gaúcho era justamente a profunda aversão ao progresso e à modernidade, incluindo, é claro, a tecnologia, meio pelo qual eu tive o grande prazer – e agora você também, espero eu – de entrar em contato com essa música tão rica e arraigada à cultura gaúcha.

O álbum já começa com uma ode à vida simples no campo, “Sombra Fresca e Rock no Quintal”, talvez a faixa que mais aceite o rótulo de “Rock Rural”, estilo atribuído aos Almôndegas por muitos críticos – embora, em minha opinião, elementos da MPB predominem no trabalho deles, ao menos neste disco de estréia. Assim como a primeira faixa, a terceira e mais genial composição do disco, “Teia de Aranha”, parece ter sido cunhada por JJ Veiga, tamanha a ojeriza provocada na banda por quase tudo o que pode ser conectado à tomada. “Sou humano, mas namoro um computador / O progresso engoliu a nossa paz / E a teia engoliu a própria aranha”;

Ainda nesse espírito, a faixa “Almôndegas” trata do mesmo tema, só que dessa vez de forma mais bem humorada, utilizando-se de linguagem caipira e lógica simples, do tipo “Pra quê comprar Lamborghini se tem perna pra andar?”. Confesso, leitor, que eu responderia a essa pergunta sem grandes dificuldades.

“Olavo e Dorotéia (Uma Louca Estória de Amor)” é outra composição que merece destaque. Uma canção de belíssima singeleza, apesar do título um tanto piegas – odeio essa palavra, mas contento-me com ela no momento. Digna de nota também é “Daisy, My Love”, mais uma letra sensacional do grupo, unindo espírito crítico a humor.

Poupo meus internautas do enfado de um texto deveras longo – a recente profissão de publicitário vem me ensinando a importância da síntese – e já me despeço por aqui. Recomendo fortemente o álbum a quem deseja um pouquinho de cheiro de mato e bosta de cavalo impregnado nos muros de concreto da cidade, mesmo que somente pelos breves 33 minutos de duração do disco. Ou, se o ouvinte for um pouquinho espírito de porco, colocará o bucólico disco dos Almôndegas para tocar em seu “Lamborghini”. Prometo que não conto nada pro Kleiton. Nem pro Kledir. Até a próxima!

sábado, 20 de março de 2010

Coldplay - "Parachutes"


Ultimamente eu ando deixando um pouquinho de lado meu (lindíssimo, magnânimo, fantástico, excepcional) Prog Rock em detrimento de uma musica mais Pop. Os lamentos do Tears for Fears estão cada vez mais freqüentes em meus ouvidos, e o som requintado do Keane já ganhou mais uma execução em meu iTunes. Estava há um tempo, também, querendo re-ouvir “Parachutes”, o primeirão do Colplay, e a impressão causada em mim foi mais uma vez tão boa que eu não resisti em escrever uma resenha dedicada a ele.

Não pode ser desse mundo uma sucessão tão grande de musicas excelentes, formando a mais sublime trilha sonora para um mergulho na escuridão – acabo de me arrepiar ao som da guitarra de “Everything’s Not Lost”, mas deixemos a última música para o final. O álbum me parece um orgasmo de 40 minutos de duração. E não me venham com esse papo de “A Rush of Blood to the Head” que, por mais que seja um álbum notável e extremamente inspirado em vários momentos, não chega aos pés de seu antecessor.

“Parachutes” abre os anos 2000 de uma maneira que nem os mais mirabolantes fogos de artifício nas mais belas praias do planeta puderam fazer, trazendo em sua simplicidade um charme irresistível. O que dizer da beleza melódica do disco? Temas completamente inovadores, dez músicas de uma sonoridade única, assim como dez impressões digitais únicas que só saem de um único par de mãos. O Coldplay não é subproduto de nada.

Subverterei hoje meu paradigma de análise faixa-a-faixa devido à (louvável) homogeneidade sonora do trabalho. Terão espaço apenas as músicas mais excepcionais do álbum – “Yellow” not included – o que poupará o leitor do tédio proporcionado por uma resenha de três páginas. Aliás, aqui vai uma dica: desligue o PC e corra à cópia de “Parachutes” mais próxima à sua casa.

Para o internauta mais obstinado, aqui vão os destaques do disco: após a banda se apresentar ao ouvinte com a ótima balada semi-SciFi “Don’t Panic”, surge o primeiro momento realmente genial do disco, “Shiver”, que tive a oportunidade de conhecer – mesmo que tardiamente – por meio do jogo de PS3 Guitar Hero. Igualmente fantástica, “Spies” nos delicia com sua atmosfera melancólica de cinema noir.

Por mais que eu tente, não consigo segurar o sorriso ao ouvir os primeiros acordes de “Sparks”, uma lindíssima balada basicamente acústica, possuindo o brilho que faltariam nas baladas do disco seguinte da banda. O grande e – pasmem – inspiradíssimo hit “Trouble” tem como protagonistas o bem trabalhado contrabaixo na melodia principal da canção e a slide guitar floydiana no refrão, além da sensacional melodia vocal.

Tão breve quanto um salto a queda livre, a faixa título do álbum termina tão bela e repentinamente quanto começa, dando lugar às hipnóticas e belíssimas guitarras de “High Speed”. “We Never Change” serve de passagem para o grand finale, a apoteótica “Everyting’s Not Lost”, certamente uma das melhores composições não apenas do Coldplay, mas de toda a cena pop da década. Após uma introdução singela feita ao piano e cantada pelo fantástico Chris Martin, Jon Buckland oferece, gratuitamente, o riff mais simples e genialmente encaixado de todo o álbum. A banda nem termina de dizer adeus e já estamos com saudades. Fazer o quê se o disco é bom, né...

Está bem claro que eu falhei em minha tentativa de produzir uma resenha um pouco mais sucinta, com apenas comentários pontuais em algumas das faixas. Não faz mal, uma vez que todos já conhecem a prolixidade crônica desse senhor imaginário chamado João Lemmos. O que realmente importa aqui é a preciosidade de “Parachutes” e seu grande globo giratório amarelo, que a mim parece mais uma medalha de ouro reluzindo no peito de um medalhista olímpico. Ou no peito de um disco. Ou sei lá. Adeus.